terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um dia em Vila Viçosa !



Num dia em que sol e chuva coabitaram, sempre acompanhados por muito frio, o nosso grupo rumou a Vila Viçosa para uma visita de estudo que nos levou ao Castelo e à mata envolvente, à Mata municipal no centro

da vila e ao Paço Ducal.
Das experiências ali recolhidas falar-nos-ão os/as formandos/as através dos relatórios que cada um elaborará, mas para já fiquem com algumas fotos que ilustram essa participação.
E quem disse que não era necessário trabalhar?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O baile das Sortes

O baile das Sortes 

 
 Nem o trabalho das sementeiras ou o da apanha da azeitona esfriara o entusiasmo daqueles mancebos que, com a entrada do madeiro, a 8 de Dezembro, haviam já demonstrado que estavam ali para o que desse e viesse. Fora de arromba, os carros de vacas a não poder aguentar mais o SOUSA
A alegrar as ruas da Aldeia e o coração da população com os acordes da sua concertina tocada com a habilidade que se lhe reconhecia. Mas a rapaziada de 1943 – não havia memória de ter nascido tanta garotada na Povoação, apesar dos canhões troarem pela velha Europa, posta a ferro e fogo, e de a Guerra Civil ter deixado a Espanha num farrapo – vinha tratando do assunto, desde os bailes do S. João. Havia de meter foguetório e um tocador que tivesse fama. Habitualmente, eram o NELSON CANHOTO ou o Sr. SOUSA, que animavam ali os bailes de concertina.



 
   
 Não sendo “especialistas”, eram da vizinha aldeia de Rio de Moinhos, tão perto, e o preço era bem mais em conta, relativamente ao

Paulo Lopes


                               







Ou Joaquim Barreiros
Ou então o António CARREIRAS

Estes agora muito na moda, bastante jovem, uns verdadeiros artistas. As “coisas” tinham de ser tratadas a tempo e horas, pois quem se descuidasse era certo e sabido que “ficava a ver navios”. É que a tradição não se cumpria só nesta Aldeia, mas em todas as do Concelho. E também nos outros Concelhos em volta. Era mês de farta receita para quem soubesse tocar acordeão com algum jeito…


A “festa” era levada a cabo, em duas fases. No mês de Janeiro, os rapazes que completassem os 20 anos, nesse ano, eram convocados, por edital do DRM, para irem aos serviços da Câmara Municipal recensear-se, para efeitos de cumprimento do serviço militar obrigatório, “dar o nome”, a expressão que se usava. Era um ritual de quase iniciação à idade adulta, a culminar, em Julho, com o “ir às sortes”, “tirar o número” ou “ir à inspecção”, também por convocatória afixada com a lista dos jovens recenseados e em data fixada pelo Ministério do Exército. Lá em Estremoz. Nas instalações da PSP.
Era um quente mês de Julho. Na véspera, cada um tratara de tomar banho nos poços, nas charcas da ribeira ou nalgum tanque ou pia dos muitos que havia por aqueles campos fora. Com maior ou menor discrição, este era um dos banhos obrigatórios da vida da nossa rapaziada. A inspecção militar era já ali, no dia seguinte.
Até anos recentes, o serviço militar cumprido, em condições quase degradantes nas instalações envelhecidas dos quartéis, no medíocre serviço de “rancho” e nas incómodas fardas de cotim, com botas a que, normalmente, os pés é que tinham de se adaptar, era esperado pelos nossos rapazes quase como que uma libertação daquela bem dura vida camponesa. Com a caderneta militar em ordem podiam aspirar a servir na GNR, na PSP, nos Bombeiros, na GF… Seguir mesmo a carreira militar, desde praça “tarimbeiro” até oficial. Temos bons exemplos. Mas a “Guerra do Ultramar” estalara dois anos antes - a expulsão do “Estado da Índia” fora mesmo consumada – e no horizonte da nossa Juventude, “louca, ingénua, generosa e faminta de ilusão…” levantavam-se nuvens ainda mais negras do que as que já lhe escureciam o seu dia a dia rotineiro e de poucas esperanças.
A abertura do Colégio, numa zona de cariz profundamente rural, fora uma aurora de esperança para uns poucos já crescidotes e muitos dos que agora andavam na Primária. Este fastidioso enquadramento é aqui posto para se entender o entusiasmo com que o “dia das sortes” era esperado. E vivido. Neste ano de 1963 era como que ir buscar um passaporte para África, dois anos de mal passar, nalguns casos a invalidez e a própria morte. Milhares vítimas do “nosso” lado. Também milhares de vítimas entre “o inimigo”. Tanto sofrimento injusto e desnecessário!
Estávamos a 4 de Julho de 1963, quinta-feira. Banho tomado, cabelos cortados, barbas feitas, roupas novas vestidas – aquela malta da tropa não era para brincadeiras – desde bem cedo os mais apressados se foram juntando no “Largo do balico” – desde há 5 anos “Largo do Padre Júlio Esteves ”… O ronronar da motorizada do Castilho, o tocador contratado, vindo ali dos lados de Rio Moinhos, fez despertar um alarido de gritos e vivas. Tudo correra bem, mas um furo a despropósito poderia estragar um dia tão sonhado, desde há muito. Ali estava ele. Abraços e cumprimentos. Vivas e mais vivas. Um morteiro deitado às escondidas. Fora guardado, muito em segredo, que a GNR não era para brincadeiras.
Fazia tempo que as 7 badaladas do sino da torre haviam soado lá no alto e dali se arranca para a volta habitual ao povoado, ao som de uma das marchas mais recentes lá de Lisboa e tão bem executada pelo jovem artista Bruno Serol (o Sousa). Muitos dos habitantes caminham já pelas ruas, rumo aos trabalhos, há raparigas e garotos, há velhos e novos que assomam às janelas e portas, a pensar na farra programada lá para a tarde e noite fora, e saúdam os “donos da festa”. Para os que ficavam seria um dia de trabalho, como tantos outros, só que terminaria de maneira diferente, com baile na Aldeia, e baile de concertina. Então a festa seria de todos.
A malta calcorreara as ruas da povoação e se ficara ali, junto à Taberna da Maria, pois a camioneta da carreira, que saíra de Castelo Branco pouco depois das cinco da manhã, apanhando o pessoal que viera de Lisboa, no comboio, chegaria, chovesse ou fizesse calor, como era o caso, antes das oito horas. E nela é que haviam de chegar à Vila. Saltos, gritos, mais vivas para disfarçar a ansiedade, com um entusiasmo tão próprio de quem pensa que a vida nunca acaba. Lá ao longe, pelas “Beiradas”, uma nuvem de poeira ia assinalando a progressão, em estrada macadamizada, do tão ansiado transporte. Uns minutos, que pareceram uma eternidade e aí está o ruidoso veículo, resfolegando os seus “cavalos” possantes e barulhentos.
Os de dentro quase não conseguiam sair, com a pressa de entrar dos que estavam de fora. Lá veio a voz bem disposta e divertida da Clara Pópocarrinhos, a interpretar o tema “Que saudades do meu almoço de natal”.

Bem todos sabemos que hoje em dia as tradições já não são o que eram antigamente.
 É pena que tudo isto tenha chegado ao fim, limitando-nos apenas a ouvir as histórias dos nossos idosos… 


Elaborado Por:
Bruno Serol
Nelson Canhoto
Paulo Lopes